Curiosidades

História, curiosidades e tradições

Culto aos mortos

Na civilização romana, por muitos séculos, havia a crença que não havia uma separação entre corpo e alma após a morte, quando a alma iria para um lugar melhor ou pior dependendo do julgamento moral que recebesse.

Pensavam que, em sua segunda existência, após a morte, o espectro do falecido permanecia ligado ao corpo no túmulo.

Dessa crença deriva a grande importância atribuída pelos romanos aos ritos fúnebres, especialmente ao sepultamento. Dessa forma, ao final da cerimônia fúnebre, chamava-se três vezes a alma do morto pelo nome que tivera em vida, desejando-lhe uma existência feliz debaixo da terra, pois acreditava-se que o ser continuaria ali vivendo.

A fixação da alma à morada subterrânea exigia que o corpo fosse coberto por terra. Se a alma não tivesse túmulo, não teria morada, seria errante, estaria condenada a vaguear eternamente, como larva ou fantasma, não receberia oferendas ou alimentos e, infeliz, tornar-se-ia malfazeja e atormentaria os vivos, forçando-os a proceder ao sepultamento do seu corpo.

O repouso e a felicidade da alma do morto dependia, portanto, do seu sepultamento.

Em suma, não bastava enterrar o corpo para uma vida serena após a morte, também era necessário cumprir ritos legados pela tradição e pronunciar fórmulas adequadas para as cerimônias fúnebres a fim de fixar as almas nos túmulos, evitando que permanecessem errantes.

Na sepultura estavam o repouso e a felicidade eterna. O ser humano vivia no túmulo e sua alma não se separava do corpo. O ser que vivia sob a terra não estava totalmente desligado do humano e por isso, em certos dias do ano, os vivos levavam-lhe alimentos.

Rituais funerários

 A partir do século IV d.C. a inumação tornou-se frequente, contudo ainda nos séculos IV e VI d.C. foram encontradas sepulturas de incineração.

As primeiras sepulturas de inumação que foram localizadas na necrópole romana de Braga datam do século III d.C.[28] Além do corpo não ser cremado, nesse tipo de sepultamento também não se encontra mobiliário funerário nas covas.

Apesar de ser sustentada por alguns autores, a hipótese de que a maior difusão da inumação estaria associada à difusão do cristianismo mostra-se redutora. As modificações havidas quanto aos rituais funerários dependiam de fatores sociais diversos, conforme as diferentes regiões em que eram adotados.

É importante salientar que tanto o processo de cremação quanto de inumação pressupunha o enterramento seja do corpo seja das cinzas e ossos restantes. O que sofreu alterações ao longo do tempo foi apenas o modo de destruição e de transformação do cadáver, fosse pelo fogo ou pela terra. Incinerado ou não, o cadáver haveria de se submeter ao rito dos funerais para se reunir à comunidade dos manes. Os mortos cujos enterros não seguiam o conjunto de preceitos específicos das cerimônias fúnebres , especialmente aqueles que não eram enterrados, eram considerados perigosos, sendo necessário apaziguá-los com rituais de diversas formas.

Com isso, apesar de se tratar de um ritual doméstico, a Lemúria interessava toda a comunidade pelo seu caráter de purificação e afastamento dos espíritos errantes.

Culto doméstico

Sabemos muito pouco a respeito dos rituais domésticos romanos. É possível que, ao contrário do que ocorria nos rituais públicos, alguns romanos experimentassem nesses cultos privados um mundo religioso dentro do qual pudessem encontrar uma experiência pessoal advinda da celebração, além de um sentimento mais imediato de pertencimento à comunidade e do seu lugar dentro desta.

Não havia regras uniformes para a religião doméstica. Os seus ritos, orações e cantos eram propriedade sagrada e exclusiva de determinada família, e cada uma possuía os seus deuses (Fogo, Lares, Manes). Os cultos ficavam limitados ao interior da casa, não eram públicos, e somente o pai, seu único intérprete e pontífice, tinha o poder de ensiná-los a seus filhos.

A religião doméstica abrangia o culto aos mortos. Os funerais deveriam ser realizados pelo parente mais próximo. Havia a crença de que o morto só aceitaria a oferenda se fosse entregue por seus parentes e só desejava ser cultuado por seus descendentes. Ao filho se impunham sacrifícios aos manes do pai e de todos os seus ancestrais.

Logo, havia uma permanente troca de favores entre os vivos e os mortos de uma família, que constituíam uma unidade. O antepassado recebia dos descendentes os prazeres de que poderia desfrutar na segunda vida, após a morte; os descendentes recebiam do antepassado a ajuda e a força de que necessitavam. Estabelecia-se um poderoso vínculo entre todas as gerações de uma família, através das quais a religião doméstica propagava-se. O pai dava a vida ao filho e ensinava-lhe os cultos aos seus deuses. Assim, ao nascer, o novo ente adquiria o direito de adorá-los e oferecer-lhes sacrifícios, como também, mais tarde, quando a morte o divinizasse, seria incluído entre os deuses da sua família.

Referências bibliográficas:

FUSTEL DE COULANGES, Numa Denis. Une leçon d’ouverture et quelques frag
ments inédits de Fustel de Coulanges.Revue de Synthèse Historique, Paris, v. 3, n. 6,
p. 241-263, 1901. Disponível em: <https://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k1015212>. Acesso em: 4 jun. 2022.

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